sexta-feira, 29 de novembro de 2013

De 'Sem destino' ao próximo 'Capitão América', veja as motos do cinema

John Wayne? Cavalo. Peter Fonda? Moto. Se você respondesse assim esse exercício de livre associação, duas coisas seriam certeza: 1) Você é um terráqueo;  2) Você sabe alguma coisa sobre cinema. Wayne foi o cowboy máximo que Hollywood gerou. Ninguém foi melhor do que ele com um Colt 45 na mão e um palitinho no canto da boca. Já Peter Fonda, montado em uma Harley-Davidson com um capacete pintado como a bandeira americana, o que é? Simples: uma imagem que está na mente de toda a humanidade.

Culpa do filme “Sem destino” (“Easy rider” é o título original), lançado em 1969, certamente não o primeiro a ter na motocicleta uma forte protagonista, mas responsável por plantar a ideia que motos podem ser usadas para fins pacíficos, como passear sem destino, por exemplo, apesar de que, no filme, a grana tenha vindo do tráfico de cocaína.
Abaixo alguns filmes marcados por motos:
sem destino easy rider (Foto: Divulgação)'Sem destino' (Foto: Divulgação)
'Sem destino’
Wyatt (Fonda) e Billy (Dennis Hopper) no filme usaram as Harley modelo Hydra Glide de 1949, genuinamente enquadradas no padrão Chopper, nome que nasceu para definir motos modificadas na base do “catadão”, com peças de ferro velho e bem pouca coisa para quebrar.

Fonda (que escreveu o roteiro) e seu companheiro Hopper (que dirigiu o filme) cruzam o sul dos EUA nos anos 1970 com motos dos anos 1940, empurradas por motores da geração Panhead fabricados de 1949 a 1965, um recado claro que para ser feliz (ao menos naquela época) qualquer tecnologia poderia servir.
Curiosidade sobre as filmagens é que as motos da dupla eram, na verdade, quatro, por temor de que, por serem velhas e muito modificadas, não resistissem. Com duas de cada, a chance de problemas era menor, claro.
o selvagem marlon brando (Foto: Divulgação)'O selvagem' (Foto: Divulgação)
'O selvagem’
Se Peter Fonda e sua Harley marcaram o auge desta época do Flower Power, onde a América mergulhada na guerra do Vietnã estava envolta em nuvens de maconha e muito LSD, bem antes disso, nos anos 1950, quem assumiu o guidão de uma moto para se tornar lenda foi Marlon Brando.

Usando uma Triumph modelo 6T Thunderbird, o jovem Brando, aos 29 anos, liderava uma gangue de motociclistas no filme “O selvagem” (“The wild one”, de 1953), que apavorava a sociedade conservadora dos Estados Unidos, mal saída das sombras da 2ª Grande Guerra e ainda sob efeitos da também sangrenta Guerra da Coreia.
Cruéis e violentos, Brando e asseclas tinham na motocicleta um instrumento de afirmação. Se hoje o couro preto e a cara de malvado ainda são estereótipos de muitos motociclistas, isso se deve a Johnny Strabler, papel de Brando no filme.
E sua Triumph? A 6T Thunderbird era uma bicilíndrica cuja versão inglesa original, de 500 cc, foi anabolizada para atender a vontade de maior potência dos clientes norte-americanos. À época, era reconhecida como uma verdadeira superbike, capaz de superar os 160 km/h.

A Triumph torceu o nariz ao ver sua Thunderbird ser usada em um filme onde motociclistas e motocicletas representavam o pior que a humanidade podia oferecer ao mundo. Porém, as vendas do modelo decolaram com o sucesso do longa, comprovando que, às vezes, uma má propaganda tem ótimos efeitos.
capitão américa 2 (Foto: Divulgação)'Capitão América 2' (Foto: Divulgação)
'Capitão América 2'
Falando em propaganda, pegar carona nas peripécias de heróis das telas para divulgar novos modelos tornou-se corriqueiro. Exemplo disso teremos dia 11 de abril próximo, data marcada para a estreia no Brasil do filme "Capitão América 2: o soldado invernal" ("Captain America: the winter soldier"). O filme servirá de rampa de lançamento para uma das grandes apostas da Harley-Davidson, a recém-apresentada Street 750, moto que introduz um inédito motor refrigerado a líquido (mas sempre um V2 a 60 graus), e cujo público alvo são exatamente os jovens. Quanto a marca americana teria pago para que sua novidade aparecesse nas mãos do herói da trama, Steve Rogers? Este é um segredo guardado a sete chaves, porém, convenhamos: que outra marca de moto poderia ser usada pelo Capitão América?

steve mcqueen the great escape (Foto: Divulgação/Metro-Goldwyn-Mayer Studios)'Fungindo do inferno' (Foto: Divulgação/Metro-Goldwyn-Mayer Studios)
'Fugindo do inferno'
Voltando a falar de Triumph, outra muito notória da marca foi a usada pelo lendário Steve McQueen no salto que provavelmente catapultou sua carreira e o filme “A grande escapada” (“The great escape”, 1963) para a glória. Detalhe: a moto de McQueen no filme era uma TR 6S Trophy de 1961, uma das mais apreciadas para a prática do fora de estrada na época e, acredite se quiser, uma evolução da 6T Thunderbird usada por Brando 10 anos antes.

Outra particularidade do filme, além da evidência de que, na época, a tecnologia das motos andava mais devagar, é o fato que no campo de concentração do qual McQueen fugiu, a existência de uma Triumph era uma total improbabilidade, uma vez que as motos do exercito alemão na 2ª Grande Guerra eram as BMW R75, com motores escandalosamente diferentes do inglês: sempre de dois cilindros, mas contrapostos (boxer) em vez de cilindros paralelos. Nome disso? Licença poética cinematográfica, talvez.
desafiando limites (Foto: Divulgação)'Desafiando limites' (Foto: Divulgação)
'Desafiando limites’
Em tempos mais recentes, um filme que conquistou corações e mentes de quem gosta de moto – e nem tanto assim – foi a história de Burt Munro, o vovozinho neozelandês que, beirando os 70 anos, preparou uma mais respeitável ainda Indian Scout dos anos 1920 e com ela embarcou para o Lago Salgado de Bonneville, nos EUA, clássico cenário de quebra de recordes mundiais de velocidade.

Magistralmente interpretado por Sir Anthony Hopkins no filme “Desafiando limites” (“The world’s fastest Indian”,2005), Munro, obstinado devorador de recordes em plena 3ª idade, tem uma história de vida que resultou em um filmaço, muito fiel à incrível saga do homem apaixonado por mecânica e velocidade.


'O exterminador do futuro 2"
Na contramão das imagens perfeitamente recriadas da história verídica de Burt Munro e sua Indian Scout na luta para alcançar impensáveis 300 km/h está a hiperbólica ficção estrelada por Arnold Schwarzenegger, perfeitamente coadjuvado (ou seria o contrário?) por uma Harley-Davidson FLSTF Fat Boy em “O exterminador do futuro 2” (“Terminator 2”, 1991).

o exterminador do futuro 2 (Foto: Divulgação/TriStar Pictures)'O exterminador do futuro 2' (Foto: Divulgação/TriStar Pictures)

Na mais do que cinematográfica cidade de Los Angeles um androide mocinho luta com outro androide bandido. O herói vai de Fat Boy e um dos pontos altos do filme é quando Arnold, o herói, claro, salta de uma ponte com a Harley e... bem, como dissemos no início, o filme é pura ficção, pois nenhuma Fat Boy resistiria a tal peripécia.
Todavia, a manobra impossível não compromete o sempre espetacular trabalho dos “stunt men”, os dublês-piloto, que fazem o público imaginar que o ator de origem austríaca que virou governador da Califórnia é um motociclista de talento tão grande quanto seus bíceps.
top gun (Foto: Divulgação/Paramount Pictures)'Top gun' (Foto: Divulgação/Paramount Pictures)
'Top gun’
Tom Cruise é outra estrela de Hollywood com boas passagens ao guidão. A primeira é rápida e completamente trivial, mas, para alguns, inesquecível: em “Top gun – Ases indomáveis” (1986), seu personagem Pete “Maverick” Mitchell troca o poderoso caça F-14A Tomcat pela igualmente furiosa Kawasaki GPz 900R. À época, as importações de veículos eram proibidas no Brasil e o moderníssimo modelo catalisou os olhares de qualquer fã de motos que tenha visto a cena, atraindo cobiça mais intensa do que a dirigida à mocinha, Kelly McGillis.

missão impossível II (Foto: Divulgação/Paramount Pictures)'Missão impossível II'
(Foto: Divulgação/Paramount Pictures)
'Missão impossível II'
Pouco menos de dez anos depois, Cruise voltou ao guidão nas telas, só que dessa vez usou e abusou de manobras improváveis usando uma Triumph Speed Triple.

Saltos, derrapagens e inverossímeis tiroteios podem encher os olhos do leigo, mas motociclistas – por mais admiradores que sejam dos excelentes dotes da naked inglesa – classificam o uso da moto em “Missão Impossível II” (“Mission: Impossible II”, 2000) como genuíno besteirol sobre rodas.
'Diários de motocicleta'
Para terminar, trocamos a ficção hollywoodiana em seu estágio mais avançado por um dos mais belos “road movies” jamais feitos. Estrelado pelo mexicano Gael Garcia Bernal e dirigido pelo brasileiro Walter Salles, o filme “Diários de Motocicletas”, de 2004, é a dramatização da viagem empreendida pelo médico argentino recém-formado Ernesto Guevara e seu amigo Alberto Granado no lombo da clássica inglesa Norton 500 Model 18, fabricada em 1939.

No que pese o “pedigree” da monocilíndrica Norton 500, a moto usada pelos amigos, chamada carinhosamente de “La Poderosa”, pouco justificou seu apelido: com 13 anos de (provavelmente mau) uso, já que a viagem foi empreendida em 1951, La Poderosa deixou a dupla a pé antes mesmo da metade do planejado roteiro, que de Buenos Aires os levaria até o Peru.
O filme, belíssimo pela imagem e mensagem, traz grandes recados para quem quiser se aventurar mundo afora de motocicleta: não importa quem esteja no guidão – se um comum mortal ou um icônico futuro líder como Ernesto Che Guevara – motos até aceitam desaforos como uso indevido ou arriscado no cinema. Porém, muito melhor é lembrar que se bem usada, nenhum outro veículo é capaz de te levar tão longe e em contato tão direto com a cinematográfica beleza e diversidade de nosso planeta.
'Diários de motocicleta' (Foto: Divulgação)

Roberto Agresti escreve sobre motocicletas há três décadas. Nesta coluna no G1, compartilha dicas sobre pilotagem, segurança e as tendências do universo das duas rodas.
Fonte: G1

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